sábado, 16 de julho de 2016

Euro-fantasias que nos custaram muito caro


Houve economistas que perceberam muito bem a perversidade da criação do euro. Um deles, Rudiger Dornbusch, escreveu isto:

A luta para alcançar a união monetaria, na fórmula de Maastricht, pode vir a ser recordada como uma das mais inúteis batalhas da história europeia. Os custos para lá chegar são grandes, os benefícios económicos pequenos, e a probabilidade de um desaire enorme. (…)
A crítica da UEM mais séria é a de que, abandonando os ajustamentos pela taxa de câmbio, transfere para o mercado do trabalho a tarefa de ajustar a competitividade e os preços relativos [produção interna versus produção importada] (…)
Se uma região entra em declínio porque, por exemplo, as suas exportações se tornaram obsoletas, a deflação tem que desempenhar o papel da desvalorização. (…)
Nas regiões atrasadas o desemprego aumentará, assim como os problemas sociais e as queixas contra a integração. (…) Se as taxas de câmbio são abandonadas, enquanto instrumento económico, qualquer outra coisa terá de ocupar o seu lugar. Os promotores de Maastricht cautelosamente evitaram dizer qual seria essa outra coisa. Mercado de trabalho competitivo é a resposta, mas essa é uma palavra feia numa Europa do Bem-Estar social.
Foreign Affairs, September 1, 1996 - Euro Fantasies: Common Currency as Panacea

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Submetemo-nos de vez, ou acabamos com o protectorado?


Os analistas da direita chamam a nossa atenção para a ameaça de sanções a Portugal e a possibilidade de isso vir a gerar desconfiança nos mercados, o que fará subir as taxas de juro que o Tesouro terá de pagar por novas emissões de dívida. Partem do pressuposto de que a decisão de compra e venda das obrigações de Portugal depende da confiança que a nossa economia e o nosso governo inspiram. No actual contexto, nada de mais errado.


Se a desconfiança fosse o factor determinante, as taxas nunca teriam baixado desde 2012 pela simples razão de que um governo endividado em moeda de que não é soberano, amarrado num colete de forças jurídico que fez dele um protectorado sem política económica, não tem qualquer possibilidade de pagar uma dívida insustentável. Por muita austeridade que aplique, como o próprio Fundo Monetário admite. De facto, só a política monetária do BCE, ameaçando comprar tudo no mercado secundário ou, desde há algum tempo com o Quantitative Easing, comprando um montante fixo mensal, têm mantido as taxas de juro num estado de acalmia.

Porém, a resistência do Governo às aplicação de medidas de austeridade adicionais (leia-se: recusa da total submissão) suscitou a raiva dos falcões do Eurogrupo, da CE e do BCE. Isso foi motivo bastante para, invocando a necessária "prudência" (a mesma que teve de adoptar com a Grécia), desde Março o BCE ter passado a comprar dívida pública portuguesa em quantidades muito abaixo do nível a que vinha fazendo ("travagem a fundo", regozija-se o Observador). É esta dinâmica que António Costa e os seus aliados não podem contrariar, por muito que protestem.

Portanto, mais dia menos dia, o PS e o BE terão de fazer a escolha que até hoje têm evitado sequer enunciar: submetemo-nos de vez, ou acabamos com o protectorado?

E não me venham dizer que o povo não está preparado porque essa foi a desculpa de Tsipras e será sempre a de todos os que se recusam a prepará-lo para enfrentar a realidade. A preparação já devia estar a ser feita, enunciando com rigor a escolha que vem a caminho. A quem interessa a voz grossa dos que apoiam o governo, mas evitam falar com clareza do que aí vem? A quem interessa o discurso da indignação do BE, exigindo um referendo ao Tratado Orçamental, dessa forma legitimando a entrega da soberania que a formulação da pergunta, sob a forma de referendo, por si só significa?

sábado, 9 de julho de 2016

Os desvalidos









São milhares, centenas de milhares de portugueses que vivem na incerteza do amanhã, vivem na obrigação do silêncio, do medo, numa esperança finita e numa luta sem voz, estes são os trabalhadores precários.
Vidas precárias e marginais, condicionadas, vidas sem luz e sem direitos, obediência desregulada e sancionada apenas pelo lucro que proporcionam. Salários baixos, trabalho extra não pago, excesso de carga horária, pressão no cumprimento de objectivos
e uma fortíssima chantagem psicológica, têm como resultado o medo, a ansiedade e um forte sentimento de injustiça, condicionam, ainda a vontade de participação social.
A existência de uma importante e crescente componente de precariedade e instabilidade na estrutura do mercado de trabalho português tem servido para subjugar a vontade popular em patrocinar os movimentos que advogam a necessidade de grandes mudanças no paradigma económico e social, tal como, nós na DS defendemos. Assim, é absolutamente necessária a existência de políticas que renovem a esperança daqueles que que estão agrilhoados num modelo de trabalho onde não existe definição para bem-estar e dignidade.

Só um novo modelo de economia e em políticas verdadeiramente democráticas que passem pela valorização da pessoa, só assim poderão ser criadas as condições para uma nova a onda de esperança. A nacionalização da banca e dos sectores económicos estratégicos é uma obrigação e um dever nacional, colocar a economia ao serviço das necessidades do povo, e a implementação de criteriosos e produtivos investimentos serão imprescindíveis a implantação das políticas de “pleno emprego” que defendemos, acabando definitivamente com o flagelo dos “falsos recibos verdes” e da precariedade laboral.